A análise etimológica de nomes e símbolos, nomeadamente no âmbito da Lenda Arturiana, não é uma prática inovadora. A não ser a um nível popular, intuitivo, fonético e especulativo, requer profundos conhecimentos das línguas pré-indo-europeias, indo-europeias, do proto-celta comum e das línguas celtas insulares, em particular, do ramo goidélico.
Para além das questões linguísticas, filológicas e etimológicas, que são complexas e discutíveis, é essencial o conhecimento integral e integrado do Ciclo Arturiano da Matéria da Bretanha. Este artigo não tem por objetivo propor uma nova teoria, nem contrapôr as que existem. Gostaria apenas de expor alguns factos que poderão suscitar as reflexões.
O significado do nome Arthur tem inspirado teorias que são repetidas por entusiastas e vários autores. Centram-se no urso como símbolo de soberania, que seria representado pelo lendário Rei Artur. Em 2017, o popular autor britânico August Hunt foi mais longe e baseou-se no significado do nome para propor uma nova teoria sobre a origem de um Arthur histórico. Especulou acerca da hipotética relação daquele a quem chamou The Bear King, como fizeram outros antes dele, com as dinastias britânicas de ascendência irlandesa que perpetuam o nome deste animal, o qual segundo ele seria um título.
Artur e Arthur, que em irlandês arcaico do século VI se escreveria Artúr, são ambos derivações goidélicas e britónicas de uma forma mais antiga, talvez do galês arcaico arth e, por sua vez, do antigo celta, do proto-celta ou celta-comum, *arto-. Como é do conhecimento geral, o nome quer dizer urso. A raiz proto-indo-europeia desta palavra é comum aos quatro ramos indo-europeus, o itálico, o hindi, o grego e o céltico, e seria pronunciada *rktho-, *rkto-, *rkso-, ou *rtko-.
No entanto, ao contrário do que acontece em línguas como o irlandês arcaico, o galês, o português, o espanhol, o italiano e o francês, entre outras, aquela raiz não está presente nas palavras para urso em muitas línguas europeias do norte, das quais deriva a língua insular anglo-saxónica, que também influenciou o irlandês ou gaélico moderno, no qual urso é béar, muito semelhante a bear.
Existe a teoria do tabu do urso, que propõe uma explicação para esse facto. É ensinada aos estudantes de indo-europeu e de linguística histórica e defende que a palavra urso resultou de uma deformação linguística. Dever-se-á a um tabu profundamente enraizado e disseminado, originado do temor e da reverência pelo maior predador das florestas e das montanhas europeias, o qual terá levado vários povos, sobretudo os do norte da Europa, a referirem-se ao animal sem necessidade de evocarem o seu nome.
Identificavam-no apenas pela sua cor, ou por outra característica; por exemplo, como sendo aquele que come o mel e, simplesmente, o destruidor. Em muitas línguas modernas, castanho diz-se e escreve-se de formas semelhantes, como brown, bruin e brun, e aproxima-se da palavra para urso, bear, béar, baer, bjorn. Todas estas palavras têm a mesma raiz indo-europeia, *bher. O verdadeiro nome estaria ocultado e não deveria ser pronunciado, nem sequer usado na antroponímia. Muito menos como um título de soberania.
Imagem em destaque:
Gustave Doré (1832-1883); Roi Arthur, Ermite dans la grotte, ilustração para Idylls of the King, de Alfred Lord Tennyson, 1889.

