Avalon e as Origens de Glastonbury

Para os entusiastas e estudiosos de Glastonbury, a associação da vila a Avalon nem sempre é central. Esta vila e o seu entorno são ricos em vestígios ancestrais e mistérios, por direito próprio. Glastonbury, o seu tor, as colinas circundantes, os Levels de Somerset, e toda a área compreendida entre a Quantocks e as Mendips merecem todo o nosso interesse e nada devem a quaisquer associações tardias à mítica Avalon. Em Glastonbury, o substantivo tor, relativo a elevações geográficas, passou a ser um nome de lugar. A construção do Tor é em si matéria para uma vida inteira. Sabemos que não é uma colina natural, ainda que a geografia do local possa ter sido escolhida para ser a base para os trabalhos de terra que se seguiram, uma vez que foi deliberadamente moldada. A certeza é que os antigos povos da região habitavam as Lake villages, “aldeias do lago”, em torno da área conhecida por “ilha”, que inclui o local onde hoje existe Glastonbury. A “ilha” em si era um tabu e as pessoas não permaneciam aí. Apenas os cristãos a colonizaram, edificando uma igreja modesta, um mosteiro no Tor, e mais tarde a abadia, no século sétimo. A associação a Arthur não contém mistério, no sentido em que foi uma forma de monetizar o local, colocando-o na rota das peregrinações e assim financiando a reconstrução da abadia, após o violento incêndio de 1184. Se a história cristã de Glastonbury é bastante conhecida e inclui a sua própria tradição mística, os tempos pré-cristãos, da pré-história até à chamada Idade das Trevas, são os que suscitam mais questões.

De seguida, partilho apontamentos acerca das origens da Avalon e de Glastonbury, em particular a associação da vila à ilha mítica. A maior parte das informações são os esclarecimentos de Christopher Gwinn, investigador independente, estudante de Arqueologia e História Europeia Antiga e Medieval, Mitologia Comparativa, Literatura Europeia Medieval e Antiga, Linguística Histórica (com especialização em Linguagens Célticas Proto-Indo-Europeias, Antigas e Medievais). Gwinn é fascinado pelas origens e pelo desenvolvimento das Lendas Arturianas e da literatura medieval por elas inspirada, as quais estuda há mais de trinta anos.

A invenção de Avalon

“Afallon é uma adaptação óbvia da (insula) Auallonis de Geoffrey de Monmouth (o nome do lugar não era conhecido dos Galeses antes de Geoffrey; eles ficaram tão perplexos com ele que pensaram que Geoffrey queria dizer Afallach, uma figura misteriosa encontrada em algumas das velhas linhagens galesas). Gwydrin “glass” é uma tentativa folclórica de etimologizar o nome Glastingburi, em inglês antigo, tratando o primeiro elemento desse nome como glæs ou “glass” do inglês antigo.

“Geoffrey dá-nos uma ideia bastante boa acerca da localização de Avalon; ele indicou que havia uma ilha no oceano ocidental e ele associou-a tacitamente às Ilhas da Fortuna da tradição clássica. Desde a antiguidade, as Ilhas da Fortuna foram tipicamente associadas às Ilhas Canárias. Geoffrey estava a escrever a partir das fontes clássicas e medievais antigas acerca das famosas “Ilhas da Fortuna”, que eram comummente identificadas como as Ilhas Canárias na Antiguidade e até à Idade Média (note que a insula Auallonis de Geoffrey é no oceano ocidental). Em várias descrições das Ilhas da Fortuna, é declarado que elas eram notáveis pelas suas muitas árvores de fruto (poma em Latim). Geoffrey, procurando dar um ar céltico a estas ilhas (e provavelmente influenciado pelos contos irlandeses das ilhas mágicas de Emain Ablach, (Emain das Árvores de Fruto”; estas mesmas talvez parcialmente influenciadas pela tradição clássica das Ilhas da Fortuna), aplicou o nome galês para árvore de fruto, avalleu ou, na verdade, uma forma dialéctica *avallon, à ilha e Avalon foi criada.

“Outra associação que é feita com frequência é a Aballaua ou Abballava em Burgh by Sands, no extremo ocidental da muralha de Adriano, onde existe o vasto pântano de Burgh que em alguns locais isola o vallum e que poderia estar associado a Arthur e que é o nome atestado de um tipo de pomar, que fica a um dia de viagem marítima da Irlanda. No entanto, há zero conexões entre Aballaua e Arthur, mas o nome contém a palavras britónica para “árvore de fruto” (*aballo-); nós podemos traduzir o nome como “Árvore de fruto água/ribeiro”.

“Se lermos a Vita Merlini, de Geoffrey de Monmouth – Insula Auallonis é uma ilha no oceano ocidental, não um lugar na Grã-Bretanha. Essencialmente, Geoffrey pegou na tradição clássica das Ilhas da Fortuna (ver Plínio o Velho, Naturalis Historia; Isidoro de Sevilha, Etymologiae; Rabano Mauro, De Universo; et al.) e misturou-o com a história das feiticeiras da ilha de Sena, ao largo da costa da Gália, por Pompónio Mela.

“Quanto à popular questão das “maçãs”, prende-se com a raiz etimológica do nome Avalon, galesa/córnica/bretã antiga, *aball or *avallen(n) (“macieira, árvore de fruto”) e irlandês antigo, *aball (“maçã). Todas estas e outras palavras do céltico comum e galês moderno estão etimologicamente relacionadas com a raiz gaulesa *aballo (“árvore de fruto”) e *aballū ([lugar] das “árvores de fruto”), da raiz proto-céltica *abalnā. É essencial notar, no que respeita à ligação gaulesa, existia o nome de lugar Aballo ou Aballone, da mesma raiz etimológica, que pode ainda ser encontrado na comuna francesa de Avallon, na Borgonha. Esta comuna e o rei supremo romano-britânico Rhiothamus inspiraram a teoria moderna (1985) de Geoffrey Ashe, acerca de um rei Arthur histórico e de uma possível localização para Avalon. Certo é que a fundação da Avallon francesa antecede a de Glastonbury e, apesar de nenhum texto antigo colocar Rhiothamus sequer perto de Avallon, o facto é que o nome de lugar existia à data das obras de Geoffrey de Monmouth e não podemos excluir essa fonte de influência ou inspiração para o nome dado por ele à mítica ilha. Aparentemente, William de Malmesbury menciona uma conexão lendária de Glastonbury a uma macieira em 1125-35, mas esta é na verdade uma interpolação tardia ao texto original, após Geoffrey.

“Existem também as Hespérides e as suas maçãs douradas, localizadas várias vezes no longínquo Oeste, e os seus nomes relacionavam-se com o entardecer e a noite. É uma tradição de crença muito disseminada. No folclore nórdico, encontramos Iduna com o seu jardim de maçãs que os deuses comem para terem vida eterna.

“Não podemos desconsiderar a influência nórdica e irlandesa (ver Matthias Egeler, “Avalon, 66° Nord: Zu Frühgeschichte und Rezeption eines Mythos”, De Gruyter, 2015).

Glastonbury e a associação a Avalon

“Glastonbury surgiu pela primeira vez associado a Avalon em De principis instructione, de Gerald de Gales, c. 1194. Podemos confirmar isso, uma vez que este assunto é examinado em detalhe no livro de James P. Carley (ed.) Glastonbury Abbey and the Arthurian Tradition, Boydell & Brewer, 2001.

“É tudo muito complicado porque Bartrum afirma que o original de ‘Ynys Wydrin’ era ‘Ynys Wytherin’ e que ‘Glastonbury’ significa o ‘forte dos descendentes de Glast’. O inglês antigo Glastingburi pode ser traduzido como “forte/vila (buri) dos descendentes de Gast (Glast-inga)”. Ynis Wydrin = “Island of Glass”.

“É possível, no entanto, que Glast- seja uma forma britónica emprestada ao inglês antigo. Não é credível que o nome possa ter derivado de Gwytherin [o santo] (em última análise um empréstimo do latim Uictorinus).

  1. C. Bartrum, em A Welsh Classical Dictionary: People in History and Legend Up to about A.D. 1000, diz:

“YNYS WYDRIN.

«Um velho nome galês para Glastonbury, significando Isle of Glass. William de Malmesbury em De Antiquitate Glastoniensis Ecclesiae (1129-39) (ed. Thomas Hearne, p.48) e na sua segunda edição de Gesta Regum (c. 1135) regista um contrato no qual é declarado que um certo Rex Domnoniae em 601 deu a terra de Ineswitrin consistindo de cinco hides [cerca de 202 hectares] ao abade Worgret. O contrato foi assinado pelo bispo Mauuron [Mawron], mas o nome do rei era ilegível. Há razões para encarar o documento como genuíno. Noutro lugar em De Antiguitate (p.97), referindo-se ao mesmo contrato, o lugar é chamado Yneswitherim [recte Yneswitherin]. Isto seria a moderna Ynys Wytherin, e derivaria do nome pessoal galês Gwytherin (q.v.) do latim Victorinus (E. W. B. Nicholson em Cy. 21 (1908) p.98).» 738

A WELSH CLASSICAL DICTIONARY

«Ynys Wytherin talvez tenha sido o nome original do assentamento pré-saxão antes de ter recebido o nome Glestingaburg, a vila dos Glaestings (ver s.n. Glast). Mas a ideia surgiu que ‘Glastonbury’ continha a palavra ‘glass’ [vidro] e esta influência pode ter levado ao nome Ynys Wydrin, quer como uma modificação de Ynys Wytherin, ou, se a antiguidade do nome Ynys Wutherin não é aceite, por uma tradução deliberada do inglês ‘glass’. Ver também Hugh Williams, Gildas, pp.1410-2 nota.»

“Caradog de Llancarfan pensou que a mudança foi na direcção oposta, porque na sua Life of Gildas (§10) ele disse:

«Glastonia, ou seja, Urbs Vitrea [Cidade Vítrea], que tomou o seu nome de vidro, é uma cidade com um nome originalmente em língua britânica.»

“E ainda (§14):

«Glastonia era em tempos chamada Ynisgutrin e ainda é chamada assim pelos habitantes britânicos. Ynis em língua britânica é insula [ilha] em latim; gutrin é vítrea [glassy]. Mas depois da chegada do inglês … foi renomeada Glastigberi … que é glass [glass] em inglês, vitrum em latim, e beria, uma cidade, então Glastiberia, que é, Vitrea Civitas [a Cidade Vítrea].»

“Giraldus Cambrensis disse quase o mesmo em De Instructione Principum, (1193-9) Distinctio i (ed. Rolls, Opera, VIII. 126), e Speculum Ecclesiae (c. 1216) Dist.ii, §9 (ed. Rolls iv.49). Em ambos ele associa o lugar também com Avallon, e no mais tardio ele tenta explicar o uso da palavra ‘glass’ – ‘no curso do rio como que de uma cor vítrea circundando o pântano’. Veja E. K. Chambers, Arthur of Britain, pp. 269-273.

“Esta explicação insatisfatória de ‘glassy’ mostra a falsidade da suposta etimologia dos nomes Glastonbury e Ynys Wydrin (PCB).”

“Ou seja, este é um puzzle de difícil resolução, uma vez que temos um nome escrito de duas maneiras diferentes naqueles contractos citados por William de Malmesbury. Ineswitrin seria “Glass Island” e Yneswytherin “Ilha de Gwytherin”. Um enigma, portanto. Aqui está a etimologia de Glastonbury em Key to English Place-Names, University of Nottingham, para aumentar a confusão:

“Glastonbury

“Fortificação das pessoas residentes em Glaston’. Outra forma antiga de ‘ilha das pessoas residentes em Glaston’. A raiz do próprio nome, Glaston, é talvez derivada de CB *glaston-, ‘blue, green’ ou Co glastan, ‘carvalhos’.

Elementos e os seus significados

-ingas (inglês antigo) As pessoas de…; as pessoas chamadas de… .

Burgh (inglês antigo) Um local fortificado.”

“Assim, é bem possível que Glast- seja um empréstimo britónico (a não ser que tenha sido tirado do latim glastum “woad” [erva Europeia Isatis tinctoria], ela mesma um empréstimo do Céltico?).

“O Penguin Dictionary of Place Names diz que o latim ‘vitrum’ significa tanto ‘vidro’ como ‘erva’. Assim ‘lugar da erva’ explicaria tanto os nomes inglês como galês. Isso é apoiado pelo Oxford Dictionary of Place Names.

“A única coisa que é possível acrescentar é que se William de Malmesbury tinha acesso ao contrato genuíno datando do sétimo século, o nome Gwytherin seria escrito *[G]uithorin (talvez [G]uidorin) na sua fonte, uma vez que pré-dataria a i-affection (a não ser claro, que os nomes escritos no contrato tivessem sido modificados por um copista tardio, pós i-affection).

“César usa ‘vitrum’ no sentido de ‘erva’.

“No Geiriadur Prifysgol Cymru, o Dicionário da Linguagem Galesa:

«gwydrin2
[gwydr, bnth. Llad. vitrum ‘glaslys, glesyn, woad’+-in]
a.
A glesyn yn tyfu yno (yn yr e. lle Ynys Wydrin, hen e. Cymraeg Glastonbury):
woad-growing.
?601 Cylchg HSG ix. 103, Ineswitrin.
12g. ib., Ynisgutrin nominata fuit antiquitus Glastonia et adhuc nominatur a Britannis indigenis (trafodaeth Syr Ifor Williams).»

“Tanto ‘Ynys Wydrin’ como ‘Glastonbury’ referem-se a erva mas em galês isso pode ter sido mais tarde confundido como ‘vidro’. É difícil dizer e pode ter os dois significados. Talvez ‘vidro’ tenha sido produzido no local, devido a algum rio/ribeiro com aparência vítrea. Lembra glais, variante glas, que é uma palavra galesa para ribeiro. É possível que Glast- num nome de uma população em inglês antigo *Glastinga, possa ser derivado do nome de um curso de água local chamado *Glastos/*Glasta/*Glaston em britónico (equivalente do galês glas “rivulet”, riacho). Em alternativa, podíamos ter um nome britónico de lugar significando “Green/Blue/Gray (lugar)”.

“P. C. Bartrum:

‘GLAST. (470?)

“O nome do epónimo de Glastonbury, os seus descendentes sendo chamados Glaestings e a sua cidade Glestingaburg, logo Glastonbury. A genealogia dos descendentes de Glast é dada nas genealogias ‘Harleian’ (HG 25 em EWGT p.12). Aqui ele é o pai de Morfael e o décimo-primeiro descendente dele é Idnerth ap Morien, o último da linha. A linhagem acaba:

“Unum [ler unde] sunt Glastenic qui uenerunt [per villam] que vocatur Loytcoyt,
Estes são os Glaestings (?) que vieram [através da cidade] que é chamada Lichfield. Uma versão mais tardia da linhagem é encontrada no expandido ‘Hanesyn Hen’, do qual uma versão (em Peniarth MS.177 p.217 de Gruffudd Hiraethog) termina:

“Oddyna y Glastyniaid a dyfodd o Gaer Lwydkoed i Gaer a elwir yr awr honn Aldüd.

“Assim os Glastonianos que vieram de Lichfield para a cidade chamada Aldüd hoje.
Ver ABT §19 em EWGT pp.106-7.

“Uma história confusa de Glast e da sua fundação de Glastonbury é contada numa interpolação em De Antiquitate Glastoniensis Ecclesiae, de William de Malmesbury (ed. Thomas Hearne p.16). Aqui Glast é incorrectamente chamado Glasteing e os seus onze descendentes (cujos nomes são dados correctamente excepto por diferenças menores) são erradamente designados como seus irmãos, bisnetos de Cunedda.

“Depois diz:

“Hic est ille Glasteing, qui [venit] per mediterraneos Anglos, secus villam quae dicitur Escebtiorne.
Este é aquele Glasteing, que [veio] através das Midland Angles, de outra forma da cidade que é chamada Escebtiorne.

“A correspondência com o texto mais antigo é próxima se aceitarmos as palavras em [ ] e excluirmos as palavras ‘mediterraneos Anglos, secus’ na segunda versão. As outras diferenças são ‘Glasteing’ para ‘Glastenic’, Escebtiorne para Loytcoyt, e tratando Glasteing como um nome pessoal. Esceb = ‘bispo’ (galês moderno esgob), e pode bem referir-se a Lichfield que era uma cidade bispal. Ver: (A.W.Wade-Evans em Notes and Queries, 193 (1948) p.134).
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“Aqui dizem-nos que Glast era o bisneto de Cunedda e é interessante notar que Glas (q.v.) ab Elno, da linha de Dogfeiling, também era bisneto de Cunedda. A identidade dos dois foi sugerida por E. W. B. Nicholson (Cy. 21 (1908) pp. 100-3).

“A interpolação segue dizendo:

«[Glasteing], seguindo os seus porcos até Wellis [Wells] e daí através de um curso de água sem trilho, chamado Sugewege, que é ‘Sow’s Way’ [‘Caminho da Porca’], encontrou a sua porca perto da igreja de que estamos a falar [Glastonbury], a dar de mamar debaixo de uma macieira, e assim chegou até nós que as maçãs dessa macieira são chamadas Ealdcyrcenas epple que é ‘Maçãs da Igreja Velha’. Por essa razão, também, a porca foi chamada Ealdecyrce Suge [Porca da Igreja Velha], a qual, é bom lembrar, tinha oito patas, enquanto as outras porcas têm quatro. Então, por isso, Glasteing, depois de entrar naquela ilha, viu que ela abundava de muitas formas em coisas boas, veio viver nela com a sua família, e passou o resto da vida aí. E da sua progenitura e família que o sucedeu, aquele local passou a ser povoado.»

“Está visto que aquela simples afirmação da linhagem dos Harleian foi suplementada por uma lenda relacionada com uma porca, e com a introdução de uma macieira. A última está provavelmente relacionada com a tardia identificação de Glastonbury como a Ilha de Avalon, e a explicação de Avallon como a Ilha das Macieiras [galês afall, ‘macieira’]. A introdução dos porcos sugeriu a R. Thurneysen que a história foi desenvolvida a partir de um incidente na lenda de St. Patrick [São Patrício] (Zs. f. rom. Ph. XX (1896) pp.316 ff). Porque no ‘Glossary’ atribuído a Cormac mac Cuilenáin, o príncipe-bispo de Cashel, c. 900, s.n. Mug- eime, Glastonbury é referido conforme o seguinte:

“Glassdimber … Ou seja a residência onde vivia Glass o filho de Cass, o guardador de porcos do rei de Iruath, a alimentar os seus suínos, e é a ele que Patrick deu vida depois, isto é, six-score [seis vezes trinta, cento e vinte] anos depois de ele ter sido morto pelos campeões de MacCon.

“Isto é provavelmente uma interpolação (Whitley Stokes, Three Irish Glossaries, p.xlviii n.2). A história é aparentemente retirada de Tirechán’s Memoirs (c.670) que diz que durante as suas viagens em Connacht Patrick chegou a uma enorme campa, 120 pés de comprimento. Os seus seguidores ficaram espantados e inclinados a duvidar que um homem de tal tamanho realmente existisse. Para os satisfazer, Patrick voltou a chamar o homem à vida. Ele ergueu-se em resposta às suas questões e disse-lhes:

“Eu sou Cas filho de Glas, e eu fui o guardador de porcos de Lugar, rei de Hirot. O bando de guerreiros de MacCon matou-me no reinado de Coirpre Nia Fer.

(Ed. Whitley Stokes, The Tripartite Life of St.Patrick, pp.324-5). Aqui Glas é pai de Cas. Similarmente na Tripartite Life (loc.cit. pp.122-3). Mas no Dindshenchas of ‘Loch nDechet’ [in Connacht] dizem-nos que Dechet filho de Dergor era um servo de Glass mac Caiss no tempo de Áed Ruad neto de Mane Milscoth (Revue Celtique, 15 pp.475-6; Royal Irish Academny, Todd Lecture Series No.10 pp.410-3).

“Os monges de Glastonbury adoptaram Patrick na sua propaganda. Depois parece que o filho de Cas filho de Glas, o guardador de porcos na lenda de St. Patrick, se tornou Glas o filho de Cas, o guardador de porcos, e depois foi identificado com Glast, o fundador de Glastonbury. Assim o ‘Glossary’ de Cormac. Então Glast(eing) com os seus porcos surgiu (PCB).”

“Em geral, nomes em inglês antigo com -inga referem-se a povos/tribos, por isso *Glastinga seria “povo de Glast”, onde Glast poderia ser uma figura ancestral, ou talvez um nome de lugar/hidrónimo. Não é impossível, contudo, que possa ter sido tirado de uma formação britónica completa, uma vez que sabemos que *glato- era uma raiz céltica e -inco- é um sufixo adjectival atestado em nomes célticos tribais e de lugares. Outra coisa notória: o galês/córnico/bretão também têm as palavras glesin/glesyn/glazzenn (do britónico *glast-in-) significando tanto “turfa verde/relva/clareira” e (galês/córnico; sem certeza que exista em bretão, mas há um equivalente em irlandês antigo) “borragem comum/erva”. Pode ser coincidente, mas em galês de Cardiganshire (e Carmarthenshire e toda a Gales do sul) há uma tendência para pronunciar algumas palavras terminadas em -in como -ing (assim, prin > pring; Lladin > Llading; gorsin > gorsing); talvez nalgum momento isto tenha ocorrido no neo-britónico falado na área de Glastonbury quando os saxões chegaram? Se assim foi, *Glastinga poderia ser um empréstimo inglês do equivalente local de glesin (com o significado de “turfa verde/relva/clareira” ou “erva”). Provavelmente é apenas uma hipótese, mas vale a pena considerá-la.”

Imagem de destaque:

Walter Tully (1847 – 1934; visit Walter Tully, Glastonbury’s pioneer cameraman, Glastonbury Conservation Society); Glastonbury Tor, from Pictorial England and Wales. Cassell and Company, Limited, London, Paris & Melbourne, c.1896. ©Ø

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