O nome da personagem Merlin, que de imediato sugere mer, do francês para mar, deve a sua existência no lendário a Geoffrey of Monmouth, Gruffudd ap Arthur, um galês de ascendência bretã, com influências parentais normandas, ou seja, do norte de França, que construiu aquela personagem a partir de Myrddin.
Para além de uma ancestral divindade bretã, terá existido uma figura histórica com o mesmo nome, que enlouqueceu após uma batalha e que foi viver na floresta, nos meados do primeiro milénio. Surgiu por escrito na literatura galesa, no início da Idade Média, servindo de inspiração para todas as reinterpretações de Merlin, nomeadamente como o silvestre, o das silvas ou o silvano, e aquele que em episódios posteriores da lenda é aprisionado dentro de uma árvore, e mais frequentemente numa gruta ou caverna, quer em Camelot, quer por Nimue.
As associações de Merlin a florestas não são anteriores a Myrddin e a etimologia deste nome britónico nunca foi um título druídico. Não existiu em nenhuma sociedade celta, porque esse nome foi criado por Geoffrey of Monmouth, no século XII.
É claro que a ideia de título ou grau sacerdotal não é original, tendo em conta os livros de autores muito populares, sobretudo, no Reino Unido. Também para Christine Campbell-Thomas, sacerdotisa iniciada da ordem mágica fundada pela autora e ocultista Dion Fortune, Merlin e Morgan também eram “titles” de sacerdote e sacerdotisa, mas nesse caso atlantes e não celtas.
A etimologia do nome está conotada, mais uma vez, com o mar, com moridunon, uma fortaleza à beira-mar, com um falcão da frente de mar. À semelhança de are mori, que resulta no adjetivo armoricano, a raiz de Myrddin, que se diz Mur-thin, é precisamente mori. Partilha da mesma essência marítima de Morgen, Muirgen, Morvoren, das quais deriva Morgan, da antiquíssima raiz irlandesa māra rīganī-s > mór rígan, Grande Rainha, que não significa “corvo”, embora essa ave lhe esteja associada. Também, de mór gen e da raiz galesa mor cant > morcant, sendo que mor é mar, cant é círculo, e gen é génese ou origem.
A melhor alegoria ao significado de Merlin é a Merlin’s Cave, que está situada na Cornualha, sob Tintagel Castle. Na atualidade, merlin é uma palavra que designa o Falco culumbarius, um pequeno falcão ou esmerilhão do hemisfério norte, vulgarmente chamado pigeon hawk. No Ciclo Arturiano, que é o correspondente cristão, muito esmaecido, do ciclo irlandês de Ulster, o par Artur e Merlin, o rei e o adivinho ou conselheiro, que toma o lugar do druida, é o principal tema herdado da Mitologia Irlandesa, que reflecte e preserva o ancestral princípio céltico de soberania, manifestado na dupla que simboliza a conjugação entre a autoridade espiritual e o poder temporal.
Imagem de destaque:
Arthur Rackham (1867-1939); “Merlin and Nimue”; The Romance of King Arthur and His Knights of the Round Table, Abridged from Malory’s Morte D’Arthur (Facing p. 30); 1917. ©Ø

